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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

Imunologia de mucosas e sítios imunoprivilegiados

Ana Carolina Terra Mercadante

Fonte: Shutterstock.

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sem medo de errar

Para você conseguir tirar a dúvida de seus colegas, é necessário lembrá-los de que os mamíferos apresentam eucariotos, archeobactérias e eubactérias colonizando as superfícies epiteliais e formando uma intricada rede de comunidades de microrganismos nesses locais. É no intestino, porém, que se encontra seu maior reservatório, chegando a um total de 1014 células microbianas diferentes. A presença de microrganismos no intestino é um fator extremamente importante para mamíferos, uma vez que sinais liberados por esses seres promovem uma digestão ótima do alimento, mantêm a homeostasia epitelial, modulam o metabolismo lipídico, promovem a angiogênese e a função dos nervos entéricos, promovem o desenvolvimento normal e a regulação da homeostasia do sistema imunológico associado à mucosa, além de auxiliar na resistência a infecções. É devido a esse fato que o transplante de fezes é eficaz no tratamento de infecções antibiótico-resistentes por Clostridium difficile. Nas fezes humanas, são encontrados diferentes microrganismos naturais da flora intestinal, tais como bactérias, fungos, arqueias e vírus que colonizarão o intestino do receptor, ocupando o espaço e competindo com o C. difficile por nutrientes, o que levará, consequentemente, ao reequilíbrio da microbiota local.

Avançando na prática

Um local muito especial

Imagine que você, já formado, tornou-se professor de Imunologia de uma grande universidade. Você foi procurado por um aluno que não estava conseguindo interpretar um dado observado por ele ao realizar um experimento para sua monografia. O tema dos estudos desse aluno é o comportamento do sistema imunológico durante a gravidez. O que ele observou em seus experimentos foi que camundongos fêmeos prenhes foram capazes de reconhecer e de rejeitar enxertos de pele singeneicos ao feto (geneticamente idênticos) sem que houvesse comprometimento (e, portanto, rejeição) do feto. A dúvida do estudante era: como o sistema imunológico conseguia apresentar respostas diferentes, inflamatória contra o enxerto e tolerogênica ao feto, quando ambos os alvos eram geneticamente idênticos? O que você diria ao aluno?

Para sanar-lhe a dúvida, é necessário recordá-lo de que respostas inflamatórias em determinados tecidos do corpo poderiam deflagrar disfunções letais em alguns órgãos ou levar a falhas na reprodução das espécies. Por causa disso, tais tecidos desenvolveram mecanismos para controlar as respostas imunológicas. Tais tecidos são conhecidos como “sítios imunoprivilegiados”. Antígenos estranhos que induziriam respostas inflamatórias na maior parte do corpo, ali, normalmente despertam tolerância imunológica. Os mecanismos que asseguram o perfil tolerogênico variam de acordo com o tecido. Um dos sítios imunoprivilegiados mais importantes é o útero da fêmea grávida, afinal, o feto, por ser constituído também por antígenos de origem paterna, seria 50% estranho à fêmea e poderia despertar uma resposta inflamatória que resultaria em aborto. Por causa desse fato, a fêmea, no experimento realizado pelo aluno, foi capaz de rejeitar o enxerto sem que houvesse qualquer prejuízo para o feto que carregava.

Bons estudos!

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